quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Eu tenho medo.

Júlia saiu animada do colégio aquela tarde. Ia a casa de um amigo, daqueles que cuja companhia  se assemelha à sensação de enfiar os pés em chinelos velhos após um dia exaustivo.Ele já havia lhe dado a chave, e a casa ficaria ao seu dispor.Planejava dar uma fuçadinha na geladeira, ver TV e aguardar até que ele chegasse. Acomodava-se, quando tocou o telefone.Começa o dilema - Júlia era uma pessoa indecisa- "Atendo? nããão, melhor não, né? na casa dos outros..." e pensava em seguida: "E se for importante?" "e se alguém estiver em perigo?" "e se for ele querendo me avisar alguma coisa?" "ai, vou atender!!"

-"Alô"?
-"ALÔ, CADÊ GUSTAVO"?
-"Ele está na aula"...
-"AULA? GUSTAVO NÃO TEM AULA ESSA HORA... AULA ONDE?"
-"Em Olinda"...
-"GUSTAVO NÃO TEM AULA EM OLINDA...QUEM É VOCÊ? O QUE É QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO AÍ NA MINHA CASA? HEIN?"
-"Eu sou Júlia, amiga de Gustavo".
-"HUM, AMIGA...NÃO SEI DE AMIGA NENHUMA NÃO! COMO É QUE VOCÊ ENTROU?"
-"Ele me deu  a chave"...
-"CHAVE? ELE? ELE DEU A CHAVE? ELE NÃO IA DAR A CHAVE DA CASA PRA NINGUÉM NÃO!"

E Júlia, arrependidíssima, pensava com a sabedoria que lhe permitiam seus treze anos, que seria melhor  ter deixado morrer fosse quem fosse que estivesse em perigo, ao invés de atender esse telefonema.

- "É, mas ele deu".
-"SAIA DAÍ VIU? TÔ INDO AÍ, VIU? VOU CHAMAR A POLÍCIA!!!!"

Júlia imaginava o seu Alôncio, pai do amigo, vermelho, com seus cabelos esbranquiçados de Beethoven do outro lado da linha, e sentia medo. Me-do. Ligou para Gustavo. Nada. Não atendia, o infeliz.E agora? ia embora? ficava? ligava pro seu Alôncio explicando tudo, ainda com mais calma? Optou pela atitude mais ajuizada: "Vou trancar o apartamento todo. Isso! duvido alguém entrar aqui!"
O telefone toca novamente. Antes de atender, Júlia pega uma peixeira na cozinha.(mais seguro) Atende:

- "A-LÔ".
-"VOCÊ AINDA TÁ AÍ É"?
-"..."
-"CADÊ GUSTAVO"?
-"Tá na aula...(suspiro)"
-"HUM... SEI NÃO... ELE LHE DEU A CHAVE POR QUE?"
-"Pra eu não ficar na rua enquanto ele estava na aula, em Olinda".
- "MENTIRAAAAA"...

E desligou.

Júlia levantou-se e ficou de um lado pro outro, andando sem largar a faca. O infernal telefone, de novo.  Atendeu, impaciente:

-...?
-"Jú"?
-"Ahhhhhhhhh,Gustavo"!
-"Já sei. Meu pai, né? Ligou pra mim, e eu expliquei tudo a ele. Que eu estava na aula, e você tinha ido praí".
-"AH".
-"Já estou indo, beijo".

Mal se sentava...

-"Oi"
-"Júlia"?
-"É"
-"Oi, Julinha, você é amiga de Gustavo né? aqui é o pai dele (?)...como é que você está? está confortável? pode ligar o ar-condicionado,lanchar... eu tenho conta no burgomestre pode pedir lá, se você quiser"...
-"Não, obrigada seu Alôncio".
-"Faço questão".
-"Ok".

E esperou o amigo, sentada no sofá com  a faca na mão.


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5 comentários:

  1. a vida como ela é!

    hahahahahahahahahaha

    adorei irmã! =*

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  2. ehauheuaheuhae, morri de rir aqui... excelente texto. Parabéns Linha, te amo.

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  3. hahahahahahahahahahahaha
    muito bom, cunhada.
    sua mente é bem criativa

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  4. Adorei seu blog, amiga. Só peço para vc escrever mais pois dá muita vontade de ler ainda mais suas histórias e estórias...
    Beijo
    Juli

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  5. uhauhahuauhahuahuauhauhauhauha
    a vida como ela é indeed.

    axei tudo. mas axei a participação de gustavo muito pouca.. só digo isso!!

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